domingo, 13 de novembro de 2011

Valha-nos Nossa Senhora Medianeira*



Muita gente pode achar graça do que vou contar. Se achar, paciência.

Sou devota de Nossa Senhora da Medianeira.

Há cinco anos, sempre vou à Romaria - ou a trabalho, ou como romeira. Mas vou.
E olha que nem sou católica.

Essa relação com Nossa Senhora começou quando eu tava tentando me recuperar de um furacão que passou na minha vida, destruindo quase tudo. Vou contar essa historinha primeiro.

No final de 2002, num período de uns quatro meses, perdi emprego, casa, namorado, uma das melhores amigas, uma montanha de dinheiro e até o bichinho de estimação tive de dar.

Voltei para Santa Maria, em 2003, com uma mão na frente e a outra atrás. Deixei os móveis que não vendi na casa de um amigo e fui morar na casa da minha mãe. Dormia no quarto do meu sobrinho e guardava as roupas dentro de uma calçadeira velha da minha tia. Um amigo muito querido, o Cristian, conseguiu que eu trabalhasse no caixa de uma boate uma vez por semana, pra eu ter uns trocados e não ter de pedir o dinheiro do cigarro pra mãe. Uma merda.

Três meses depois, consegui frila no jornal. Trabalhei por um ano e meio só pra pagar as dívidas que tinha - e as dívidas que a amiga que "perdi" havia feito em meu nome (nunca emprestem cheques, amiguinhos).

Foi então que, em novembro de 2004, já contratada pelo jornal, com todas as contas pagas e com o nome sujo por conta de apenas um cheque de R$ 30 - em mãos de uma firma falida - me vi na cobertura da Romaria Estadual da Medianeira.

Começamos a trabalhar às 7h. Minha missão era fazer entrevistas no Parque da Medianeira. Desde cedo, estava muito calor. Mas não achei o trabalho aborrecido, porque a cada entrevista eu conhecia uma história mais bonita de fé. O "milagrezinho" de cada dia, a grande graça e, sobretudo, muita esperança.

Sei que, em dado momento, eu estava no altar monumento e a imagem de Nossa Senhora estava chegando. O sol ardia, não havia sombra, e eu resolvi me agachar num cantinho (até pra evitar aparecer toda suada nas imagens de TV). Quando eu vi, colocaram a imagem da santa no meu lado.

Quando me dei por conta, notei que, sem querer, estava ajoelhada aos pés de Nossa Senhora. Olhei para a imagem e senti um cansaço tremendo. E chorei.

Fazia tempo que eu não rezava, e achava que não estava ali pra isso, mas aproveitei pra mentalizar: "A Senhora sabe do que eu preciso. Me ajude, por favor".

Sequei as lágrimas, levantei e segui meu trabalho.

E agora vem o meu milagrezinho.

Meu "encontro" com Nossa Senhora foi no dia 14 de novembro. No dia 3 de dezembro eu estava com o nome limpo, me mudando para um apartamento alugado no meu nome. Falei que meu nome estava LIMPO?

O cheque desaparecido há um ano e meio surgiu do NADA.

Vai soar clichê, mas me convenci de que não há advogada melhor do que Nossa Senhora.

E, desde então, anualmente, no segundo domingo de novembro, faço aquele trajeto a pé, com milhares de romeiros, como prova de gratidão e de humildade.

E, mesmo se um dia eu não morar mais em Santa Maria, vou me esforçar para vir aqui, orar para os meus, e, de novo, erguer os olhos para Ela e dizer: "A Senhora sabe do que eu preciso. Por favor, me ajude."
*Post publicado em novembro de 2009 no blog www.pyleque.blogspot.com

3 comentários:

Eliane F.C.Lima disse...

Minha cara,
De tudo que eu li, me ficou a sensação de uma pessoa forte e resolvida. Bacana. E que escreve bem. Sua narrativa é cativante e mesmo contando um relato que poderia ser apenas um ato de fé, a coisa soa interessante, narrativamente falando. Sou especialista em literatura e gostei da leitura.
Embora uma pessoa que acredita, acredite menos nas outras pessoas e não se deixe explorar. Alguém que aceita cheques dos outros já é alguém em quem não se deve confiar. Fica aí a experiência de uma pessoa que já viveu sessenta e um anos.
Eliane F.C.Lima (Blogues "Literatura em vida 2", "Poema Vivo" e "Conto-gotas").

Ana Paula disse...

Ah!!!
Gostei tanto do seu blog.

Bj!

TatiPy disse...

Obrigada, meninas, pelas palacras tão lindas!
Eliane, vou espiar teu blog já!

Beijão